
Recursos Educativos Digitais
Recursos educativos digitais é o que mais existe na Internet. Neste caso, selecionei aqueles ligados à educação digital que considero poderem fazer a diferença, seja com os mais novos, seja com adultos. E, quando falo em adultos, refiro-me tanto a famílias como a profissionais que queiram dar mais ênfase a este tema de educação nas escolas. Mesmo com os mais novos, dependendo da idade, estes recursos podem ser um bom ponto de partida para iniciar um diálogo sobre literacia digital (o que é e porque é tão necessária), bem como sobre os efeitos e perigos das redes. A partir daqui, é fácil explorar a importância de definir regras digitais em casa para um uso online mais saudável, mas também outros temas, como é o caso do cyberbullying, do funcionamento do algoritmo, entre outros temas.

1. Como crescer com as redes sociais (e não contra elas) de Sofia Macedo (Junho 2025)
Este eBook, um PDF de literacia digital, foi o ponto de partida do Educar no Digital. O seu conteúdo assenta em 5 verdades que os educadores precisam de assimilar em prol do bem-estar digital dos mais novos e pode ser um bom ponto de partida para um plano de acção de educação no digital:
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A tecnologia não é inocente
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Os mais novos não são especialistas
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Não basta proibir o uso de smartphones
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A importância dos influencers
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Educar pelo exemplo
2. A Geração Ansiosa - Como a Grande Reconfiguração da Infância está a provocar uma Epidemia de Doença Mental de Jonathan Haidt (Junho 2024)
Para quem procura estudos e pesquisas sobre as redes sociais e o seu impacto na saúde mental, o livro A Geração Ansiosa está cheio deles. Ainda assim, a informação está organizada de forma acessível e fácil de ler — apesar de ser um calhamaço.
Jonathan Haidt é, hoje, uma das personalidades mais vocais sobre como a proliferação das redes sociais está ligada ao aumento de problemas de saúde mental nos adolescentes, especialmente nas raparigas. O que ele defende vai muito ao encontro daquilo que são também os pilares do Educar no Digital:
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Escolas sem smartphones
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Nada de redes sociais até aos 16 anos
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Mais autonomia no mundo real
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Mais brincadeira livre nas escolas
3. The Social Dilemma - Netflix (Setembro 2020)
Um documentário sobre como as redes sociais são projetadas, mostrando bem como funciona o algoritmo e a sua capacidade de manipular o comportamento e prender a atenção dos utilizadores.
Na minha opinião, uma das grandes valias deste documentário é contar com os testemunhos de ex-executivos e engenheiros do Google, do Facebook e do Twitter (entre outras empresas) que descrevem, como os algoritmos exploram as vulnerabilidades psicológicas para maximizar o lucro.
Além disso, recria o dia a dia de uma família a lidar com estas questões. De forma ilustrativa, acaba por ser um excelente recurso educativo para falar de bem-estar digital, segurança online e dos perigos das redes sociais, com os mais novos, seja em contexto familiar ou escolar. A meu ver, este documentário, apesar de ser 2020, continua bastante atual e pode ser uma boa introdução numa aula de literacia na digital nas escolas, mas também em casa.
4. Adolescence - Minissérie da Netflix (Março 2025)
Segundo os autores Jack Thorne e Stephen Graham, o seu objetivo era colocar toda a gente a falar sobre o tema das redes sociais, associando-as a problemas como cyberbullying. Algo que, claramente, conseguiram, já que Adolescence se tornou um dos principais tópicos de conversa de 2025.
Apesar de a série se centrar na procura de um culpado de um crime, o foco é outro: os efeitos da toxicidade da masculinidade, a radicalização online e a influência que as redes sociais têm/podem ter sobre os adolescentes. Muitos pais reconheceram-se na figura do pai aqui retratado. Isto foi um trunfo, porque ao se acabar com a ideia de que “isto só acontece aos outros”, acabamos por ser mais reactivos, seja para procurar soluções, seja de exigir acção. Neste caso: das escolas, dos governos, das empresas de tech e, claro, das próprias famílias.
5. adultização - de Felca, no YouTube (Agosto de 2025)
Um documentário criado pelo influenciador digital brasileiro Felca viralizou no seu país, mas também em Portugal. Este doc. está no YouTube e é gratuito, leva-nos a refletir sobre o que acontece quando crianças ou adolescentes são expostos (muitas vezes, pressionados por adultos) a comportamentos, responsabilidades, experiências e padrões estéticos típicos dos adultos. Ainda mais, quando estes não estão nem emocional, nem cognitivamente preparados para tal.
Mais do que um documentário sobre redes sociais, é um recurso digital educativo precioso pela forma como mostra o funcionamento e a lógica do comercial do algoritmo. Nele, Felca revela a facilidade com que o algoritmo do Instagram é ensinado a selecionar vídeos específicos de crianças. Felca chama-lhe “Algoritmo P” (sendo o “P” de pedófilo) e revela padrões criminosos de utilizadores. Isto vem corroborar aquilo que aqui é repetido várias vezes (e comprovado em vários estudos): a tecnologia não é inocente!
6. "Agarrados às Redes - Grande Reportagem da Sic (outubro de 2025)
Da autoria de Catarina Marques, João Venda e Rui Félix, a reportagem “Agarrados às Redes” da SIC tem cerca de meia hora e aborda de forma profunda a dependência das redes sociais entre adolescentes. O trabalho expõe como a exposição excessiva e sem controlo está a influenciar o comportamento dos jovens, contribuindo para o aumento de casos de ansiedade, depressão e do cybercrime. Mais do que acusar ou demonizar, a reportagem abre espaço para refletir sobre temas urgentes como a misoginia online, a masculinidade tóxica e a radicalização digital, mostrando como as redes sociais podem ser terreno fértil para ideologias extremistas.
Com testemunhos de pais, professores e adolescentes, “Agarrados às Redes” dá voz a quem vive diariamente este desafio. As mensagens são reforçadas por especialistas, como a sexóloga Tânia Graça, e por profissionais da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (a UNC3T) da Polícia Judiciária, que explicam os riscos e comportamentos a vigiar.
Apesar da crítica, a reportagem reconhece também as vantagens das redes sociais, desde a criação de comunidades até ao acesso à informação, optando por um tom informado e equilibrado.
Portanto, é um excelente ponto de partida para pais, educadores e escolas que queiram explorar o tema do uso saudável das redes sociais. Ver esta reportagem com os mais novos pode ser o primeiro passo para conversas valiosas sobre bem-estar digital, tempo de ecrã e autocontrolo online.
Vão ver como os jovens têm muito a dizer, já que também eles estão preocupados com o uso descontrolado das redes sociais.
Conhece outros recursos educativos digitais que merecem estar nesta lista?
Então, não hesite em partilhá-los. Juntos podemos enriquecer esta lista de ferramentas e contribuir para uma iniciação à literacia digital mais rica e completa. Usar ferramentas digitais na educação é uma forma de captar a atenção dos mais novos, além de reforçar a sua mensagem.
Afinal, uma comunicação digital para educadores bem sucedida passa também pela sua capacidade de captar a atenção deles com recursos credíveis, mas também atrativos.